domingo, 5 de abril de 2009

Cotas para quê? REVISTA ÉPOCA

03/04/2009 - 21:57 - Atualizado em 03/04/2009 - 22:12
Cotas para quê?
Reservar vagas para negros e índios ou estudantes pobres nas universidades públicas não resolve uma injustiça histórica – e cria ainda mais problemas
Leandro Loyola, Nelito Fernandes, Margarida Telles e Francine Lima
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 4/abril/2009.
Assinantes têm acesso à íntegra.
Revista Época

Funcionário da Petrobras, o carioca Thiago Lugão, de 24 anos, é formado em engenharia de produção no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). Em 2002, ele foi classificado em 14º lugar no vestibular da Universidade do Norte Fluminense (Uenf), que tinha 20 vagas para o curso de engenharia de exploração e prospecção de petróleo. Lugão tirou 14,20 na prova de física, que valia 20. Ainda assim, viu concorrentes que tiraram 0,25 conseguir a vaga na sua frente, porque se declararam negros. Lugão foi um dos primeiros estudantes que fizeram vestibular na Uenf sob o regime das cotas raciais. “O sistema de cotas raciais é injusto. A cor da pele não quer dizer nada”, afirma. “Você não pode dar privilégio a alguém por causa da cor da pele. Meu avô era negro, e eu poderia me declarar pardo, até porque é difícil um brasileiro não ser pardo.” Lugão estudou no Colégio Santo Agostinho, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro. Convencido de que sofrera uma injustiça, recorreu aos tribunais. No ano passado, cinco anos depois, a Justiça decidiu que ele tinha razão. Mas Lugão já estava formado em outra universidade e pós-graduado. Hoje, ganha menos da metade que colegas formados no curso que ele queria.

Lugão é um personagem típico da história recente do sistema de cotas raciais, implantado nas universidades estaduais do Rio de Janeiro e da Bahia. Em tese, elas surgiram como uma tentativa de corrigir uma injustiça histórica – o desfavorecimento a negros e índios –, em meio a um sistema de educação pública de má qualidade. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado deve votar, ainda neste mês, um projeto que propõe expandir esse sistema e criar reservas de vagas com critérios raciais e socioeconômicos nas universidades federais. Discutida como uma questão educacional, a instituição das cotas esconde seu real alcance para o país. Não se trata apenas de reparar injustiças contra estudantes negros ou índios. Se for aprovado na comissão e no plenário do Senado, o projeto criará a primeira lei racial do Brasil em 120 anos de história republicana. “A criação de cotas raciais não vai gerar problema para a universidade, mas para o país”, afirma o geógrafo Demétrio Magnoli – ele participa das discussões no Senado e escreve um livro sobre a questão racial. “A partir do momento em que o Estado cria a raça, passa a existir também o racismo.”

André Luiz Mello Cotas para quê? (para assinantes)
Fabio Motta O que muda no vestibular (para assinantes)
Comentários
  • Messias | DF / Taguatinga | 05/04/2009 09:04
    Algumas questões Como se constrói uma casa? a partir do telhado e do teto, ou a partir da base (alicerce)? Como se corrige o problema do acesso à educação com qualidade? a partir da universidade ou a partir do ensino básico? Se as cotas são justas para o ingresso no ensino superior, por que não utilizá-las também para o mestrado ou doutorado? Algum doutor ou mestre que seja a favor das cotas apoiaria esta proposta? Japonese aqui no Brasil, também sofreram em regime de semi-escravidão. Alguém defenderia cotas universitárias para nipo-brasileiros, para reparar esta injustiça? O africanos que vieram como escravos para cá, foram vendidos aos portugueses por outros africanos. Já que deve haver reparação, por que não cobrar dos descendentes dos reis africanos que venderam escravos para os portugueses?
  • Antônio | PR / Abatia | 05/04/2009 00:48
    e os brancos miseráveis? as cotas favorecerão os poucos negros de classe média, em detrimento de negros e brancos pobres... cotas sociais seriam justas, cotas racias discriminam os pobres que tiveram a "infelicidade" de não nascerem afro-descentes!
  • Nádia | AL / Maceió | 05/04/2009 00:34
    Justiça, injustiça, justiça, injustiça... Cotas raciais é um absurdo. Já as cotas sociais, aquelas para estudantes de colégios públicos, é que são realmente "justas" ("justas" porque todos os brasileiros deveriam ter o mesmo ensino de qualidade, nesse caso, não seriam necessárias qualquer tipo de cota), uma vez que tanto um branco, quanto um negro que estudam numa mesma escola pública tem o mesmo tipo de ensino, ou seja, é justo que esse aluno branco não ingresse numa univesidade, mas seu colega negro entre? É, eu também não chamaria isso de justiça.
Qual a sua opinião sobre as cotas?
http://editoraglobo.globo.com/ XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX http://humbertoadami.blogspot.com/2009/04/cotas-para-que-revista-epoca.html

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