sexta-feira, 30 de abril de 2010

Homem que insultou e cuspiu na cara de uma mulher negra está preso

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Homem que insultou e cuspiu na cara de uma mulher negra está preso
O delegado entendeu que ele cometeu crime de injúria, ofensa moral com base em preconceitos. O ouvidor da Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial comenta a interpretação.

Ruth sabe o que é preconceito. Ela diz que nunca foi agredida diretamente, mas percebe a discriminação por causa da cor da pele em pequenos gestos. “No ônibus, se tem outras pessoas, podem ser mais jovens, elas levantam e dão o lugar, pegam a bolsa, mas não pegam a da gente”, conta a servidora pública Ruth Soares. Para a doméstica Glória da Silva, o problema é a origem. Glória é do interior do Maranhão e mesmo morando em Brasília há 13 anos, ainda sofre preconceito. “Eu já fui discriminada por ser de outra cidade. Me chamaram de roceira”, conta a doméstica. No Código Penal brasileiro há três crimes contra a honra e um deles é a injúria. A pena é de três anos, além de multa, quando ela contém elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Um desses crimes aconteceu nessa quinta-feira (29), dentro de um ônibus que passava no final da Asa Norte. André Soares Nasser, de 35 anos, insultou uma mulher negra de 44 anos. E ainda cuspiu na cara dela. Um passageiro tentou ajudar e recebeu socos no rosto. O motorista do ônibus não deixou o agressor descer e só parou o veículo quando chegou à Rodoviária do Plano Piloto. Da rodoviária, policiais militares levaram André para a delegacia. “O autor alegou que esta senhora teria dado o dedo para ele. Mas não há nenhuma testemunha que comprove esta versão. O que nós temos é a versão de que realmente ele levantou, se aproximou, cuspiu em seu rosto e a chamou de ‘nega safada’”, relata o delegado Laércio Rosseto. André foi indiciado por injúria racial e lesão corporal. O crime é inafiançável para a polícia e, por isso, ele fica preso até o caso ser encaminhado à Justiça. “Nós entendemos que, quando ele partiu para agredir a honra subjetiva da vítima, a intenção dele era justamente essa, de causar esse sentimento de diminuição. E não de praticar um crime contra a raça negra”, explica o delegado. O caso só foi parar na delegacia porque o motorista do ônibus entregou o agressor à polícia da rodoviária. A reação não é comum. “Não faria o que o companheiro fez, porque é muito arriscado para os passageiros. Eu deixaria o rapaz sair do ônibus e daria sequência à viagem”, opina o motorista Elson Santana. “É meio arriscado. Pode acontecer alguma coisa depois”, acrescenta outro motorista. Saiba mais... O ouvidor da Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial, Humberto Adame Junior, participou do Bom Dia DF desta sexta-feira e falou sobre a interpretação do delegado. Veja a entrevista completa no vídeo acima. Luisa Doyle / André Lima

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