sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Ação do Decreto 4887 prossegue no STF quarta 3.12

O IARA Instituto de Advocacia Racial e Ambiental estará presente na sessão de prosseguimento de julgamento da ADI 3239, em parceria com a FRENTE NACIONAL QUILOMBOLA. 
Lembro que o percentual de execução orçamentária do Programa Brasil Quilombola foi de apenas 14%, e que audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Camara dos Deputados e auditoria operacional no TCU atestam a baixa eficiência dos órgãos de estado envolvidos, confirmando que ajuda não chega a quem precisa. 
O Programa envolve 500 milhões e 11 ministérios. O TCU deve dar transparência ao assunto e a Camara dos Deputados também .
Humberto Adami
Advogado e Mestre em Direito
IARA Instituto de Advocacia Racial e Ambiental 
Diretor

Olá Humberto,

Como conversamos por telefone, a ADI 3239, na qual apresentamos amici curiae em conjunto, entrou na pauta de julgamento para julgamento em03/12/2014http://www.stf.jus.br/portal/pauta/verTema.asp?id=12165

No julgamento, iniciado em 18/04/12, o ministro relator Cesar Peluso apresentou voto favorável ao procedimento da ação e declaração da inconstitucionalidade do decreto que trata dos procedimentos para demarcação e titularidade das terras quilombolas. Na ocasião, a Ministra Rosa Weber pediu vista e o julgamento retornará com apresentação do seu voto.

Para esse momento, seria interessante pensar em algum tipo de mobilização, mas queria ver antes quem está acompanhando mais de perto esse debate.

Outras entidades com amicus no caso são: Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos – Cohre; Centro de Justiça Global; Instituto Sociambiental – Isa; Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais – Polis e Terra de Direitos; Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará – Fetagri-Pará; Procuradoria-Geral do Estado do Pará; Estado de Santa Catarina; Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA; Confederação Nacional da Indústria – CNI; Associação Brasileira de Celulose e Papel - BRACELPA e Sociedade Rural Brasileira.

Abraços,

-- 

  Sheila de Carvalho

Advogada b Programa de Justiça
Lawyer b Justice Program
sheila.carvalho@conectas.org
b F + 55 11 3884-7440
www.conectas.org
  conectas
  @_conectas

 


Conheça o novo site de transparência e atividades: www.conectas.org/oquefazemos

Sindicato dos Bancarios DF, 26.11: A Comissão Nacional da Escravidão Negra no Brasil . Debate





quinta-feira, 27 de novembro de 2014

VIVA JOAQUIM!


JOAQUIM BARBOSA ADVOCACIA E CONSULTORIA

Consultoria e assessoria em Direito Tributário, Financeiro, Econômico, Administrativo e Constitucional.

BIOGRAFIA

BIOGRAFIA

Joaquim Benedito Barbosa Gomes é advogado (OAB/DF 03344), Mestre e Doutor em Direito Público pela Universidade Paris II (Panthéon-Assas). Professor licenciado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), atuou como membro do Ministério Público Federal (MPF), chefe da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde e advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO).

Joaquim Barbosa é Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Corte em que exerceu a Presidência entre 2012 e 2014.

Atualmente, Joaquim Barbosa se dedica à advocacia consultiva e à participação em cursos e palestras.

 

JOAQUIM BARBOSA ADVOCACIA E CONSULTORIA

(c) Joaquim Barbosa Consultoria. Todos os direitos reservados.

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CONTATO

+55 61 4042-0588

Email: contato@joaquimbarbosaconsultoria.com.br

Endereço:
SCN QD. 04, BL. B, N. 100
Sala 1201, Parte B2
70714-900 Brasília - DF

http://joaquimbarbosaconsultoria.com.br/

Seminário Internacional na Unipalmares sobre a questao racial.


Sindicato dos Bancarios DF: A Negra e o Negro na conjuntura atual


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CONSELHO DA Magistratura do RS aprova cotas para negros


O Conselho de Magistratura do RS aprova cotas para negros.

COMAG aprova sistema de cotas para negros nos concursos públicos do Judiciário gaúcho

O Conselho da Magistratura (COMAG) do TJRS aprovou, na tarde dessa terça-feira, proposta de anteprojeto de lei para criação do sistema de cotas para negros e pardos nos concursos públicos do Poder Judiciário Estadual. A proposta, que agora segue para votação no Órgão Especial, contempla a reserva de 15% das vagas oferecidas nos concursos públicos de ingresso relativos às funções delegadas e aos cargos atinentes ao Judiciário gaúcho.
Em 27/01/14, a Lei Estadual n° 14.147/2012, que versa sobre reserva de cotas a negros e pardos nos concursos públicos promovidos pelos três Poderes do Estado, foi declarada parcialmente inconstitucional pelo Órgão Especial do TJRS, pois foi constatado vício de iniciativa no que concerne aos concursos públicos realizados pelo Judiciário.
Não há dúvida da relevância do tema e da necessidade de adoção de ações afirmativas para combater as profundas desigualdades existentes em nosso país e as diversas formas de exclusão. Sabe-se que a maior dificuldade de acesso ao mercado de trabalho é característica marcante em membros de grupos historicamente discriminados, afirmou o Desembargador Francisco José Moesch, 3º Vice-Presidente do TJRS.
Ao proferir o seu voto, o magistrado também ressaltou que, sob o ponto de vista da constitucionalidade, as políticas afirmativas que beneficiam determinados grupos étnicos por razões históricas já receberam a chancela do Supremo Tribunal Federal.

Autodeclaração
Sobre a fixação de percentual para reserva de vagas, o relator avaliou que se verifica nas diversas legislações que tratam do tema, inclusive no plano federal. Já sobre autodeclaração, o Desembargador Moesch destacou que, apesar de ser a mais comum verificada nos diversos textos legislativos, a experiência não vem se revelando eficaz, devido, especialmente, às burlas, já que o critério é subjetivo.
A proposta é de que, como requisito para inclusão, a autodeclaração seja acompanhada, já na inscrição, de qualquer documento oficial (admitindo-se por presunção documentação do pai ou da mãe) em que conste a raça do candidato.
E, ainda, a formação de uma Comissão para tratar dos casos. Como não se pode afastar a possibilidade de alguém, destacadamente negro ou pardo, não disponha de tais comprovações documentais, pode ser prevista, subsidiariamente, verificação presencial do postulante. Nesse caso, para evitar flagrante injustiça, seria confirmada a autodeclaração por exame da Comissão do Concurso, desde que evidente o pertencimento do candidato a uma das raças beneficiadas, explicou o relator.

Desempenho
Ainda de acordo com a proposta de anteprojeto de lei, ficou definido que, para participar do sistema de reserva de vagas, o candidato deverá ser aprovado no concurso, isto é, alcançar o número mínimo de acertos previsto no edital do certame.
O relator do expediente no COMAG, Desembargador Francisco José Moesch, destacou os pareceres do Juiz-Assessor Luís Antônio Behrensdorf Gomes da Silva e da Assessora Superior Graciane Molinaro Reis Roenick, que auxiliaram no embasamento do voto.

Sindicato dos Bancarios: A negra e o negro na conjuntura atual


Graça Machel : Zumbi 'e herói da Humanidade.


Graça Machel : Zumbi 'e herói da Humanidade.


domingo, 23 de novembro de 2014

OAB sugere ao governo federal criação da Comissão da Escravidão Negra

Brasília – O presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, enviou ofício à presidente da República, Dilma Rousseff, sugerindo a criação da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, que atue de modo semelhante ao realizado pela Comissão Nacional da Verdade.

Marcus Vinicius destacou a importância do tema para a história nacional. “Não por acaso, nossa iniciativa se dá no mês em que é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. E novembro está oficialmente consagrado como o Mês da Consciência Negra para a advocacia nacional. Com a Comissão, vamos identificar e expor fatos alusivos a essa triste prática em solo brasileiro. Somos um só Brasil, queremos uma nação de iguais”, apontou o presidente nacional da OAB.

A Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil terá como funções o resgate histórico desse período, a aferição de responsabilidades e a demonstração da importância das ações de afirmação como meio de reparação à população negra.

ÂMBITO INTERNO

Com criação aprovada à unanimidade pelos conselheiros federais na sessão plenária de 3 de novembro de 2014, a comissão que tratará do tema no âmbito da OAB Nacional será constituída até final do mês de novembro.

Leia o ofício remetido pelo presidente nacional da OAB à presidente da República.




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sábado, 22 de novembro de 2014

CONHECIMENTO, DIVERSIDADE E AÇÕES AFIRMATIVAS –FACULDADE ZUMBI DOS PALMARES – DE 22-23 DE NOVEMBRO DE 2014 KABENGELE MUNANGA

III CONFERÊNCIA INTERNACIONAL EDUCAÇÃO, CONHECIMENTO, DIVERSIDADE E AÇÕES  AFIRMATIVAS –FACULDADE ZUMBI DOS PALMARES – DE 22-23 DE NOVEMBRO DE 2014

KABENGELE MUNANGA

 

 

 

 

Por começar, de que educação estamos falando?Suponho que estamos falar de educação no estrito senso, ou seja, de educação escolar que em todas as sociedades, capitalistas e socialistas, é um monopólio do Estado. Num Estado democrático, que por princípio é um Estado de direitos, o Estado tem obrigação de garantir o acesso a educação a todos os membros da sociedade, independentemente das diferenças de sexos, classes sociais, “raças”, etnias, línguas, religiões, etc. A questão que se coloca é saber se em todas as sociedades capitalistas que se dizem democráticas o acesso à educação escolar é garantida igualmente para todas as crianças, jovens e adultas membros da sociedade? Nenhum país do mundo respeita integralmente os 40 artigos que compõem a declaração universal dos direitos humanos. Sem dúvida, os países da periferia dos sistemas capitalistas e socialistas que vivem em guerras, no exemplo de muitos países africanos violam mais os direitos humanos, a começar pelo direito à vida e direito de viver do que os países do centro do sistema capitalista, bem ilustrados pelos países do Norte daEuropa.Fica sempre a questão de saber se os países imperialistas são democráticos? Talvez sim, internamente. Mas no plano externo onde esses países violam constantemente os direitos dos outros povos, a começar pelo direito de autodeterminação política, fica duvidoso acreditar em sua natureza democrática.

A questão que coloco em debate diz respeito à democratização à educação num país que convive com práticas racistas, no exemplo dos Estados Unidos, da África do Sul durante o apartheid e do Brasil de hoje. Nos Estados Unidos, até o fim das leis segregacionistas nos Estados do Sul daquele país os negros só tinham acesso à uma educação pública segregada, de qualidade inferior, comparativamente aos brancos. A mesma coisa aconteceu nos países colonizados da África e sobretudo na África do Sul até o fim do regime do apartheid. Isso teve impacto na sub-representação dos negros no Ensino superior que a política de cotas ou ação afirmativa vem corrigindo desde os anos 60 nos Estados Unidos. No Brasil, país declarado de democracia racial, seu racismo de fato vem demonstrando que os negros não tiveram igualmente acesso ao ensino de boa qualidade com graves consequências em sua sub-representação no ensino superior que as políticas de cotas tentam corrigir.

Mas não é sobre esta questão tão falada que gostaria de centrar minha intervenção nesta mesa. Partindo da hipótese de que é por causa do racismo à brasileira que os negros não tiveram ou não têm igualmente acesso à educação por um lado, diz-se que a educação é o melhor caminho para se combater o racismo em nossa sociedade. Isto supõe que quando todos os cidadãos e todas as cidadãs tiverem acesso à uma boa educação, o racismo que segundo alguns é uma questão de ignorância deixaria de existir em nossa sociedade.

“Nenhuma criança no mundo nasceu racista ou odiando outras crianças”. Frase atribuída ao saudoso Nelson Mandela.

As diferenças naturais, culturais e socioeconômicas constituem a matéria prima a partir da qual se constrói todos os tipos de preconceitos e as ideologias deles derivadas.  Assim, o preconceito racial e o racismo enquanto discurso ideológico justificador e legitimador das práticas discriminatórias entre grupos e pessoas biologicamente contrastados.

Quando uma criança vem ao mundo, ela traz hereditariamente em seu corpo os atributos físicos de sua identidade corporal que a diferenciam das crianças de outros grupos. No longo processo de educação que começa no lar e dentro do grupo a qual pertence, essa criança  vai, acompanhando seu processo de crescimento físico e cognitivo, apreendendo os valores culturais do grupo e dominando os códigos culturais que de ora em diante guiarão seu comportamento no que diz respeito a sua sobrevivência material: o que comer, como comer e suas relações sociais: como se relacionar e com quem se relacionar, como casar e com quem casar, entre outros. Com o tempo, essa criança que está se tornando adolescente e logo adulta, vai descobrindo que seu grupo não é o único no mundo, pois ao redor ou nas vizinhanças existem outros grupos ou sociedades e que dentro do seu próprio grupo existem classes sociais. Ele vai descobrindo sempre através da educação ou socialização, porque seu grupo, sociedade ou classe social é diferente dos outros. Essa aprendizagem vai desembocar no descobrimento de sua identidade coletiva enquanto membro de um grupo, de uma sociedade ou de uma classe social. Mas o que é essa identidade coletiva?  Ela não é nada mais que a autodefinição do grupo a partir de alguns atributos diferenciais em relação ao outro grupo, sociedade ou classe social. Uma identidade contrastiva que visa o fortalecimento da unidade do grupo e a solidariedade entre seus membros em nome da sobrevivência do grupo. Essa identidade não é um produto acabado, mas sim um processo em constante elaboração e reelaboração. O processo de construção da identidade se expressa em discurso cujo conteúdo pode, para valorizar o grupo ao qual se pertence descrever o grupo oposto de maneira preconceituosa, atribuindo-lhe uma identidade distorcida e negativa. Somos os melhores, nossa raça é a melhor, nossa religião é a melhor e a verdadeira, nossa classe social é superior, nosso sexo masculino é o melhor, etc.

No início era o outro, mas esse outro diferente é inferior a mim, ou seu grupo, sua classe social, seu sexo, etc.. é inferior ao meu. Assim se expressa opreconceito enquanto atitude e ideias preconcebidas sobre os outros fora do meu grupo. Três momentos simultâneos são colocados em ação: 1) a percepção da diferença – (2) a valorização da diferença acompanhada de formulação dos preconceitos em relação aos outros. É neste sentido que diz-se que todas as sociedades são culturalmente preconceituosas. Mas há um terceiro momento que constitui já uma ameaça para a humanidade, quando as diferenças assim valorizadas são utilizadas em benefício de si ou de seu próprio grupo e em detrimento dos outros e seus grupos. Ou seja, quando os preconceitos são transformados em armas ideológicas para justificar e legitimara discriminação racial e as consequentes desigualdades. Estamos aqui em pleno racismo ou ideologia racista. Ela independe da educação. É claro que uma pessoa mal informada por falta de educação não tem devido discernimento sobre os problemas de sua sociedade, mas nem todas as pessoas que nutrem preconceitos em relação aos outros não tiveram educação ou são ignorantes. Quando um grande intelectual declara que os eleitores do Nordeste votaram mal porque lhes faltam informações, isto nada tem a ver com a ignorância ou a educação. Os cientistas iluministas e naturalistas que teorizaram o conceito de raça e a hierarquização das mesmas não eram ignorantes. Os cientistas nazistas não eram ignorantes. O cientista americano James Watts, um dos cientistas que descobriram a fórmula do DNA e que cerca de dez anos atrás declarou que os negros são menos inteligentes que os brancos e asiáticos não é um ignorante. O professor da UFBA, coordenador do curso de Medicine que diz que o curso de medicina daquela universidade havia baixado seu nível por causa da entrada dos alunos cotistas negros. Prova disso é que essas pessoas  só sabem tocar o berimbau, um instrumento que tem só uma corda, não é um ignorante. Os calvinistas americanos e sul africanos que se basearam nas lendas bíblicas de maldição doCão que se tornou antepassado dos negros não são ignorantes; o deputado Feliciano que disse palavras preconceituosas contra negros e homossexuais com justificativa na Bíblia não é ignorante. O pior é que elefoi mantido na presidência da Comissão dos direitos humanos da Câmara dos deputados, apesar do protesto. A questão que se coloca é saber que Comissão de direitos humanos é essa?

Sem ignorar a importância da educação em seu papelda formação do cidadão e da cidadã, vamos tirar dela o peso de ser única responsável no combate ao racismo e seus duplos. Ou seja, pensar que o racismo e suas práticas discriminatórias é somente consequência da ignorância e da falta da educação cidadã, principalmente escolar, é excessivamente exagerado. A educação sozinha não é suficiente para desmantelar as inércias das ideologias racista, machista a homofóbica.

É por isso que as sociedades que lutam hoje contra o racismo e suas consequências recorrem a três caminhos complementares: o legislativo, o político e o educativo. O legislativo promove leis que punem e reprimem as práticas racistas. É neste sentido que uma discriminação racial comprovada é na Constituição brasileira um crime inafiançável e sujeito à reclusão com pena que varia entre um ano a três anos de prisão. Apesar das dificuldades para fazer funcionar plenamente essa lei, devemos reconhecer que ela representa uma confissão oficial da existência do racismo no Brasil. Mas não basta punir e reprimir os que não respeitam essa lei. É necessário incrementar políticas públicas de inclusão das vítimas do racismo que acumulam muitas perdas, não somente na educação mas em todos os setores da vida nacional que exigem comando e responsabilidade; políticas capazes de reduzir as desigualdades acumuladas e promover a igualdade racial entre brancos e não brancos. Essas políticas passam pelas leis como a lei das cotas, oEstatuto da Igualdade Racial; a criação da SEPPIR, as leis que reservam vagas para negros na contratação dos funcionários públicos nos âmbitos federal, estadual e municipal, entre outros.

O terceiro caminho é a educação. Não basta apenas promover leis antirracistas e implementar as políticas públicas de mudança. É preciso curar as doenças da sociedade como se cura as doenças físicas e mentais com remédios e intervenções cirúrgicas, entre outras práticas medicinais. Mas a medicina preventiva deva vir antes da medicina curativa. Sendo a educação o caminho pelo qual se forma a cidadania, acredita-se que uma educação multicultural bem equilibrada contribuiria em termos preventivos na formação de um cidadão, de uma cidadã capaz de valorizar a riqueza da diversidade e das diferenças, e neste sentido não preconceituosos e não racistas. Aqui se coloca todo o peso da frase atribuída ao saudoso Nelson Mandelaquando disse que “nenhuma criança no mundo nasceu odiando outras crianças por causa das diferenças biológicas.

Como nosso sistema educacional ficou durante muito tempo preso à um único modelo eurocêntrico considerado como universal, os cidadãos e as cidadãs nunca aprender e nunca se conscientizaram da existência em seu meio de outros modelos tão válidos quanto os outros. A saída está na transformação desse modelo único. Daí a importância de uma educação multicultural que integra na formação da cidadania nossas diferenças de raça, sexo, gêneros, idade, religiões e outras que estão na base da formação dos preconceitos e práticas racistas. A questão é corrigir os vieses  preconceituosos e racistas presentes no sistema educativo, transformando as diferenças em fontes de convivência pacífica. Acredita-se que a educação é capaz de desconstruir o monstro que criou e criar um novo ser com base nos princípios da riqueza da diversidade.

Para os negros e os indígenas se coloca uma dupla questão: na educação presente, eles não são quantitativamente representados, sobretudo na educação superior. Essa sub-representação exige políticas de cotas ou afirmativas cuja polêmica no âmbito nacional já conhecemos.  A segunda questão é qualitativa, pois a educação existente na qual queremos ser incluídos é baseada no modelo eurocêntrico que rechaça a história, a cultura e a identidade negras. Ou seja, os aportes e contribuições históricas e culturais do negro no processo de formação do povo brasileiro em termos de participação e construção da nação não são igualmente reconhecidos neste modelo de educação.

O que as leis 10.639/03 e 11.645/08 estão tentando corrigir. Sobre estas leis muita coisa já se falou e se escreveu, entre outros,  dissertações de mestrado,  tese de doutoramento e livros. Alguns acham que essas leis não levantaram o voo por várias dificuldades de natureza prática, política e ideológica.

No campo da prática, era preciso primeiramente fazer um trabalho de sensibilização e conscientização dos educadores e das educadoras para que pudessem entender a importância  e a urgência de uma educação multicultural que inclui a história e a cultura dos brasileiros negros e indígenas na escola brasileira no pé de igualdade com as dos outros de ascendência europeia. Depois do trabalho de sensibilização e conscientização era preciso, no segundo passo, formar os educadores e as educadoras dando-lhes subsídios que não tiveram em seus processos de formação escolar para que pudessem se capacitar para interferir no processo de formação do novo cidadão e da nova cidadã, corrigindo o conteúdo preconceituoso que alguns ou muitos alunos trazem do lar e da educação anteriormente recebida em outros contextos sociais, entre ela a autoexclusão do próprio alunado negro. Não é suficiente formar educadores e educadoras, é preciso também colocar em suas mãos instrumentos e ferramentas didáticas apropriados para que pudessem desenvolver o que apreenderam e transmitir a seus alunos novos conhecimentos que integram os valores e riqueza das diferenças e da diversidade. Pense-se que isto contribuiria para destruir os preconceitos e os mitos de superioridade e inferioridade racial  entre alunos brancos e não brancos, futuros responsáveis do país.

A dúvida que se coloca é saber se esses três momentos complementares, ou seja, a sensibilização/conscientização – a formação dos educadores/educadoras  - a produção de materiais didáticos  apropriados foram devidamente cumpridos.

As dificuldades de ordem política e ideológica têm a ver com as realidades que qualquer processo de mudança duradouro tem de enfrentar: a lentidão por causa das hesitações, dúvidas, resistências e inércia das ideologias anteriores como o mito de democracia racial. O que fazer? Não desistir, pois o caminho é longo e espinhoso. Continuar a lutar, corrigindo os rumos e exigindo mecanismos de monitoramento e punição das escolas que não se enquadram nas leis 10.639/03 e 11.645/08. As universidades públicas têm também sua responsabilidade nesse processo de formação de professores e produção de materiais didáticos de qualidade. Elas podem contribuir através dos cursos de extensão e especialização ou de curso de pós-graduação lato senso. Infelizmente, muitas ainda são indiferentes apesar da norma do Conselho Nacional de Educação que as recomenda a fazê-lo. A sensação que tenho é a de estarmos num longo túnel do tempo cuja saída e resultados são imprevisíveis. Uma coisa deva ser reconhecida e inspira otimismo: o Brasil é por enquanto o único país da diáspora negra no mundo que tem uma lei federal ou nacional que torna obrigatório o ensino da história da África na Escola. Os Estados Unidos não tem essa lei no âmbito federal. É uma grande conquista da sociedade brasileira graças ao ativismo do Movimento Negro. A questão é fazer com que essa lei funcione efetiva e plenamente em todas as escolas brasileiras públicas e privadas..  

 

 

 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Reparação nos Estados Unidos: o processo já começou – parte 2

http://www.alaionline.org.br/reparacao-nos-estados-unidos-o-processo-ja-comecou-parte-2/

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Reparação nos Estados Unidos: o processo já começou – parte 2

Posted by alaiONline on novembro 20th, 2014

” 250  anos de escravidão; 90 anos de ‘Jim Crow'; 60 anos de ‘separados, mas iguais’. 35 anos de ‘política de habitação racista’. Se contar as dívidas morais, a América inteira não será suficiente ”

Amy Goodman & Juan González
traduzida por Ana Alakija para o alaiONline

 

Esta é a segunda parte da entrevista feita por Amy Goodman & Juan Gonzalez para o Democratcy Now com o ensaísta Ta-Nehisi Coates sobre o seu artigo de capa naThe AtlanticThe Case for Reparation”  (O processo da Reparação), no qual ele expõe como a escravidão, a segregação Jim Crow e política habitacional federal têm sistematicamente roubado afro-americanos de suas posses e  impedido os mesmos de acumular riqueza entre gerações. “Isso desmascara o mito de que os afro-americanos que atuam corretamente são respeitáveis e de alguma forma, imune à pilhagem, sintomático da supremacia branca no país”, diz Coates. “Não importa. Não há nenhuma melhora de si mesmo que lhe tire dessa.” – diz Coates. Clique aqui para ver a entrevista original em inglês. Esta é uma transcrição do rush traduzida. A cópia pode não estar em sua forma final.
Esta é a parte 2 desta entrevista em português. Veja a parte 1 da entrevista em português aqui.

 

 

JUAN GONZÁLEZ: Terminamos o show de hoje com a segunda parte da nossa entrevista com o ensaísta Ta-Nehisi Coates falando sobre seu novo ensaio-bomba, “O processo de Reparação”. O ensaio de 16000-palavras é a matéria de capa da edição de junho da revista The Atlantic e está sendo creditado para reacender uma discussão nacional sobre a Reparação pela escravidão americana e sobre o racismo institucional.

AMY GOODMAN: No ensaio, Ta-Nehisi Coates expõe como a escravidão, a segregação Jim Crow e política habitacional federal apoiaram sistematicamente o roubo aos afro-americanos de suas posses e,  impediu os mesmos de acumular riqueza entre gerações. Muito sobre esse assunto se concentra em esquemas de empréstimos predatórios que impediram potenciais afro-americanos proprietários de obter sua casa própria . Juan González e eu entrevistamos Ta-Nehisi Coates na quinta-feira para a primeira parte da nossa conversa, Vá para Democracy Now e veja a entrevista.   Esta é a parte dois.

JUAN GONZÁLEZ: Uma das coisas que você menciona em seu artigo é que, quando as pessoas falam sobre o racismo ou a supremacia branca no país, geralmente estão falando de atos individuais, como o episódio de Donald Sterling . Mas elas não querem falar sobre qualquer uma das manifestações de racismo institucional. Você diz que “É muito difícil aceitar a supremacia branca como uma estrutura erguida por pessoas reais, como uma escolha, como um interesse, em oposição a um ataque momentâneo de insanidade.” Você pode falar sobre isso?

TA-NEHISI COATES: A noção de racismo que as pessoas têm, como você mencionou, é a que é manifestada por pessoas como Donald Sterling, Cliven Bundy, alguém que diz algo que parece destemperado. Nós pensamos sobre racismo como uma questão do coração. Essa é uma das razões porque se torna tão explosivo a gente chamar alguém de “racista”, porque basicamente se está molestando uma criança ou algo parecido. Mas as declarações dos indivíduos são, em grande parte mais sintomáticas do que a fonte de qualquer coisa.

Eu penso que as pessoas devem lembrar que racismo não é natural nos Estados Unidos. Quero dizer, podemos olhar para 1619, quando os africanos vieram pela primeira vez, e como no início da escravidão eles se misturaram com serviçais brancos contratados. Veja a Bacon Rebellion, onde você via negros e brancos pobres aliados em uma rebelião. Cem anos depois, por algum motivo, você via que isto não poderia acontecer, é só olhar para as leis reais. O que chamamos de ‘negro’ nos Estados Unidos hoje, é uma questão de leis, que foram realmente aprovadas para impor a escravidão. O que chamamos de ‘negro’ aqui hoje não é o as pessoas chamam de ‘negro’ no Brasil. Não é necessariamente o mesmo que as pessoas chamariam de ‘negro’ em Louisiana há cem anos atrás. As coisas mudam. A raça é a manifestação real de uma coisa feita, e que tem profundas, profundas consequências. Eu acho que se pudermos nos concentrar e entender isso como uma coisa estrutural, como uma questão de políticas reais, ao contrário de algumas declarações destemperadas que alguém fez como resultado dessas políticas, estaremos numa posição muito melhor.

AMY GOODMAN: Uma das pessoas que você fala sobre é Ethel Weatherspoon. Ela possuiu própria casa, no bairro de North Lawndale de Chicago por mais de meio século. Em um vídeo que acompanha a peça, Ethel Weatherspoon explica como ela comprou sua casa por contrato.

Ethel Weatherspoon: ” Mudei para esta casa em 1957. Era uma zona principalmente de ‘brancos’. E quando eles disseram que os ‘nigger’ (‘pretos’) estavam chegando, eles não disseram ‘negros’, começaram a se afastar. Principalmente para quem era negro, e todos eram negros, tinham sido vendidos contratos. Se você perdesse um pagamento em três meses, ‘eles’ podiam tomar o imóvel de volta. Nenhum advogado, sem nada poderia ajudá-lo. Era isso.”

AMY GOODMAN: Fale sobre Ethel Weatherspoon e o que você diz sobre racismo institucional…que acontece na habitação.

TA-NEHISI COATES: Sim, com prazer. Todo mundo me pergunta sobre Mr. Ross; Estou eliz de poder falar sobre a Mrs. Weatherspoon. Eu queria incluir a estória dela, porque quando falamos de afro-americanos que vivem em bairros como North Lawndale, há um tipo de narrativa comum lá fora: Você sabe, essas pessoas têm caído em patologias culturais; se eles se casam e agem certo, então está tudo OK. Mrs. Weatherspoon foi casada por muitos, muitos anos, teve filhos. Seus filhos estão indo bem. Ela é uma proprietária e cidadã muito, muito responsável em Chicago. E ainda assim ela vive em North Lawndale, um bairro que apenas em termos de qualquer de indicador sócio-econômico está no lado errado de Chicago.

Uma das coisas mais provocantes sobre a sua estória é como ela surgiu e quanto trabalho ela colocou; em seguida, o fato de que ela foi capaz de segurar a casa dela naquela situação, evidencia a mentira do mito de que os afro-americanos que atuam direito, que são respeitáveis, estão de alguma forma, imune à pilhagem, que é sintomática da supremacia branca no país. Não é verdade. Não há melhora de si mesmo que vai te tirar dessa. Não há nenhum tipo de imunidade para as pessoas negras que se casam, pessoas negras que vão à igreja todos os domingos, ou pessoas negras que têm emprego regular. As pessoas que eu perfilo neste artigo são algumas entre americanos que mais deram duro que você possa conhecer, e ainda assim eles foram explorados de qualquer maneira.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria perguntar, ao longo dos anos 1950 e os anos 1960, o governo federal basicamente ajudou a financiar a construção da riqueza da maioria de americanos.

TA-NEHISI COATES: Isso mesmo.

JUAN GONZÁLEZ: …através de hipotecas, amortizações, que construíram os subúrbios da maioria das cidades americanas. Fale sobre isso como uma política federal e porque isso basicamente não funcionou para os afro-americanos.

TA-NEHISI COATES: Um dos problemas, e eu acho que isso vai além de uma discussão sobre a supremacia branca e racismo, é o mito do individualismo áspero neste país, como se as pessoas só fossem para os subúrbios, plantassem estacas, e depois os subúrbios viram um aglomerado de nada. Os subúrbios são frutos de política federal. Nos anos 1930 e 1940, estabelecemos a FHA [hipoteca, amortização]. Estabelecemos a Home Owners’ Loan Corporation [empréstimos para proprietários]. Montamos agências específicas [e pra quê?] para fazer as nossas comunidades olharem da maneira que olham.

Em 1995, fiz uma viagem para Chicago, pela primeira vez como adulto, eu estava escrevendo o Dan Ryan Expressway, que naquela época era o mais longo na fila de projetos de habitação pública na América do Norte, eu acho. E isso me atingiu como um desastre moral. O que eu não entendia na época era como foi realmente planejado, que os afro-americanos tinham sido cortados de qualquer tipo de programa de habitação legítimo durante os anos 30, anos 40, dos anos 50. E, em vez disso, o que temos é a habitação pública construída de forma segregada, nesse caso particular, no lado sul de Chicago.

Não há como conceber a habitação como existe hoje sem política federal. Os negros, como no pensamento da época, não seriam mutuários responsáveis. A FHA [amortização] literalmente elaborou o mapa eliminando-os e então distribuiu um ‘desculpe’. A Home Owners’ Loan Corporation de fato fez isso, e depois distribuiu para os bancos que usaram isso como política para determinar a quem e como eles iriam emprestar dinheiro . O racismo no sistema foi generalizado e total. E o fato de que os afro-americanos foram cortados do sistema habitacional não é chocante, se você entender o que o país era na década de 1930 e 1940. Isso repercute ao longo de gerações. As casas são como as pessoas na América constroem a riqueza, em grande parte. E se você corta os negros dessa oportunidade, muito se explica sobre o que a comunidade afro-americano parece ser hoje.

AMY GOODMAN: Ta-Nehisi Coates, você escreve no seu importante artigo “O Processo de Reparação”, que “quando os progressistas desejam expressar sua decepção com Barack Obama, eles apontam para as realizações de Franklin Roosevelt. Mas esses progressistas raramente notam as dificuldades de Roosevelt, bem como a democracia que ele produziu repousava sobre a fundação do Jim Crow”. Você tem falado sobre habitação, mas também da secutidade social, os benefícios do “GI”, e como eles falharam para os afro-americanos.

TA-NEHISI COATES: A triste verdade é que as políticas são bastante óbvias. Como qualquer outro progressista ou qualquer outro liberal, eu estava particularmente orgulhoso da era Roosevelt e, olhei para atrás com nostalgia para os benefícios GI, a securidade social, que são basicamente a construção da rede de segurança na América. Mas quando você olha como realmente isso foi construído… Ira Katznelson, um professor de Columbia, fez um grande trabalho sobre isso em seu livro When Affirmative Action was White [“Quando as Ações Afirmativas eram brancas”] e em seu livro mais recente, “Fear Itself” [O medo em si]. E o que ele basicamente mostra é o caminho que se tornou possível o de uma aliança entre os democratas do norte e os do sul. Os democratas do Sul não tiveram algum problema com a montagem de uma rede de securidade social, que beneficiaria os brancos, e a supremacia branca não iria perturbar a maneira de viver do Sul. Já os democratas do Norte – alguns deles racistas, outros não – entraram em acordo, infelizmente.

Sobre securidade social, creio eu, como estava escrito naquele momento, não se podia simplesmente dizer sem rodeios: “As pessoas negras não podem conseguir isso.” Mas o que eles fizeram foi excluir os trabalhadores domésticos e os trabalhadores agrícolas. No sul, isto significou uma ampla faixa de afro-americanos. Assim, quando a securidade social passou, excluiu algo como 65 por cento de todos de todos os afro-americanos no país, 80 por cento de todos os afro-americanos no sul. E a política foi projetada de tal forma que foi filtrada para o nível estadual. No caso da GI, os afro-americanos no sul, se fosse um veterano por exemplo, teria que lidar com algum oficial para Assuntos de Veteranos do Sul, e você pode imaginar o quão bem ele se sairia nesse caso.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria perguntar sobre o papel dos bancos contemporâneos. Nós sabemos agora, que a partir de uma série de relatórios que saíram recentemente, um dos maiores bancos do país, Wells Fargo, tinha uma unidade de mercados emergentes que especificamente orientava igrejas negras e as comunidades negras a fazer empréstimos predatórios. Mas agora que o governo está tentando fazer acordos com um monte desses bancos, não parece ser uma compensação direcionada para aqueles que foram mais vitimados, apenas um sentimento geral de que os bancos vão pagar uma certa quantia de dinheiro para fugir da acusação.

TA-NEHISI COATES: Certo, certo, certo, certo certo. E, você sabe, houve a lei de ação de classe que eu acho que faz um pouco disso. Mas a minha maior preocupação é a raiz do problema, que  é a segregação. A Wells Fargo teve um incentivo de marketing para fazer o que fez. E um incentivo de marketing foi criado por ‘nós’, norte-americanos, há muitos anos e ainda hoje está presente. Não houve um erro. Eles foram capazes de obter os memos. E nos memos você pode ver eles descrevendo seus clientes como “gente da lama”, os negros como “gente de lama”, descrevendo os empréstimos como “empréstimos do gueto.”

A coisa importante a lembrar sobre isso é, e isto é o que foi comprovado na pesquisa, mesmo depois que você para equilibrar merecimento de crédito, mesmo depois de equilibrar para a renda, mesmo depois de equilibrar para a riqueza, os afro-americanos foram ainda alvo. Não era apenas uma questão de  ser pobre, ser operário, ou o que quer ; foi precisamente porque eles eram negros. E, você sabe, mais uma vez, isso faz sentido se você entender a segregação, e você tem essa população de pessoas aqui.

Basicamente, nossas políticas de habitação do passado contribuiram para a eficiência da pilhagem de hoje. Ela se tornou eficiente para ir para comunidades negras e saquear as essas comunidades através destes empréstimos predatórios. E não há política ainda hoje, para acabar com a segregação, para torná-la ineficaz. Não há nenhuma nova política para garantir que daqui a 20 anos isso não vai acontecer novamente. E eu acho que é realmente onde a chamada para a Reparação realmente entra. O que vamos fazer para nos certificaros de que isso não aconteça novamente?

AMY GOODMAN: Ta-Nehisi, curiosamente, você escreve que uma família negra que pode fazer $ 100.000 geralmente vive em um bairro de famílias brancas que fazem $ 30.000.

Ta-Nehisi Coates: “Isso desmascara o mito de que os afro-americanos que atuam corretamente são respeitáveis e de alguma forma, imune à pilhagem, sintomático da supremacia branca Não há nenhuma melhora de si mesmo que lhe tire dessa.”

TA-NEHISI COATES: Sim, você sabe, muitas vezes especialistas, intelectuais, escritores vão olhar para uma família negra, e vão tentar controlar a renda, ou até mesmo a sua riqueza. E há uma grande quantidade de sociologia acontecendo agora que demonstra o que é chamado de “efeito vizinhança”. E isso significa que não faz sentido para realmente olhar para uma família afro-americana ou uma família branca de forma isolada. As pessoas refletem, em grande parte, as comunidades em que vivem. E, novamente, por causa das nossas políticas de habitação, o aumento da renda para os afro-americanos não é suficiente. Você tem que ser capaz de, em seguida, assumir  a renda e investi-la em algum lugar em uma casa, nesterando ter algum retorno. Os afro-americanos estão presos com exclusividade em determinados bairros neste país. Esses bairros tendem a ser bairros que são os mais elevados da pobreza. Você sabe, quando você olha para o seu rendimento e compara com a renda de brancas, e, portanto, sofrem todos os males que bairros pobres sofrem. Quando você vê uma estatística como essa, você sabe, uma família que ganha US $ 100.000 está basicamente vivendo em uma condição torno de US $ 30.000, isto esclarece muito.

JUAN GONZÁLEZ: E você poderia falar sobre como a Reparação poderia funcionar em termos práticos, aqui nos Estados Unidos?

TA-NEHISI COATES: Sim, você sabe que há muitos programas atualmente. O mais óbvio é só enviar um cheque para os afro-americanos. Basta descobrir, calcular um número, dividir pelo número de afro-americanos e enviar um cheque. Isto pode ser uma brincadeira. Mas eu não estou preparado para descartar essa possibilidade. Talvez isso seja a coisa certa. Professor Charles Ogletree-se em Harvard prevê algo um pouco mais sistêmico e um pouco mais difundido, e que é um revigoramento da idéia de construir uma rede de securidade social mais forte, políticas que possam até não necessariamente apenas beneficiar os afro-americanos, mas beneficiar desproporcionalmente os afro-americanos, mas com uma forte justiça social, uma forte retórica anti-racista ligada a ela. Eu acho que, devemos sempre viver em um mundo onde há Reparação, o que você provavelmente verá é uma espécie de mistura dos dois. Você provavelmente iria ver algum tipo de política orientada para os afro-americanos, juntamente com algumas das políticas mais amplas também.

O ponto retórico de compreensão, e isso é parte de uma dívida antiga, é muito, muito importante. Apenas um breve exemplo. Quando as pessoas criticaram o ‘Affordable Care Act’, o presidente Obama costumava dizer: “Isto é Reparação, Reparação”, e os liberais foram muitas vezes apanhados neste cruzamento dizendo: “Não, não, não, não, não, isto não é para as pessoas negras, vai beneficiar a todos “. Em um mundo justo, diríamos: “Sim, isso desproporcionalmente beneficiará os negros, e isso é uma coisa muito, muito boa, porque na maioria da nossa história temos desproporcionalmente prejudicado os negros, e as nossas políticas devem ser estruturadas de tal forma que levem isso em conta. ”

AMY GOODMAN: Você sabe que, curiosamente, Ta-Nehisi, na primeira parte da nossa conversa, quando você explicou a parte de sua obra em “The Case for Reparation” sobre como a Alemanha reparou Israel, não é só o estado de Israel. Alemanha teve que fazer reparação, de bilhões de dólares, para os sobreviventes do holocausto.

TA-NEHISI COATES: Mm-hmm, certo, certo.

AMY GOODMAN: Individualmente, onde viviam, e haviam muitos nos Estados Unidos. Mas eu queria te perguntar, você nem sempre foi pela Reparação. O que fez você mudar de idéia? E fale sobre o que mais surpreendeu em fazer esta peça maciça que você fez para The Atlantic.

TA-NEHISI COATES: Bem, duas coisas mudaram minha mente. A coisa mais importante é que eu compreendi melhor. Essa é a primeira coisa, mas acho que abrange as duas coisas. A primeira coisa é entender que a América não é um país que só teve um pouco de escravidão. A escravidão não é, digamos, auxiliar para a compreensão da história americana. Você realmente não pode entender a história americana sem entender a escravidão. O que realmente ficou esclarecido para mim quando eu comecei a fazer minha pesquisa e comecei a fazer o meu entendimento.

E só para esclarecer o que quero dizer com isso, em 1860, quando lançamos para a guerra mais mortal em nossa história, 60 por cento dos nossos lucros são derivados de algodão. Os escravos, como um todo, e eu odeio falar sobre isso dessa forma, mas os escravos, como um todo, incluíram o maior ativo específico indivídual em toda a América na época da Guerra Civil. A região com os maiores milionários per capita no país era o vale do Mississippi. Quando você fala sobre uma fonte de riqueza desse nível, você sabe, você está falando de uma grande, grande, grande, grande pedaço da história americana e um grande pedaço de como nós nos tornamos a própria América. Assim, a compreensão de que a escravidão em si não foi acessória, mas foi fundamental para compreender o que a América era, e então entender quê políticas foram passadas em 100 anos, refletindo  o fantasma, continuando a ferir os afro-americanos – um monte de coisas tornaram-se claras para mim.

JUAN GONZÁLEZ: E o seu julgamento sobre a administração do presidente Barack Obama, nosso primeiro presidente afro-americano, a sua vontade de resolver algumas destas questões, as ramificações por trás da teoria, você acha que ele entende claramente?

TA-NEHISI COATES: Sim, sim, sim, sim. É engraçado, quando eu lancei o projeto, tnaquele momento eu estava dizendo, “Talvez Barack Obama deveria dizer algo sobre isso”.  Eu já mudei de idéia. Eu não acho que ele deveria dizer absolutamente nada sobre isso. O presidente está em uma posição única como o primeiro presidente afro-americano. Acho que encolhe a quantidade de coisas que ele pode e não pode dizer. Isso não quer dizer, que não se deve ser crítico. Eu definitivamente sou fundamental. Eu acho que um pouco de sua retórica em torno da cultura e da cultura da classe política é profundamente, profundamente equivocada e é errônea . Tenho dito isso, não é a minha expectativa de que o presidente Obama vai sair amanhã apoiando a Reparação.

E eu nem sequer penso que é assim que deve funcionar. Minha esperança, minha esperança é que, outros escritores vão levar isso em diante, e eles não vão apenas olhar para isto a partir de uma perspectiva de habitação. Minha esperança é que eles vão olhar para a Reparação a partir de uma perspectiva de justiça criminal, que é outra maneira que acho que este artigo poderia ser escrito, do ponto de vista da educação, de um profissional de saúde. Há todos os tipos de formas que você pode olhar para a dinâmica das Reparaçâo. E então, depois disso, nós vamos ter algum tipo de onda no país que vai construir um movimento. Os políticos respondem à pressão, e eu acho que é isso que precisa acontecer. Esta é uma longa luta. Isso não é algo que é suposto para ser ganho no próximo ano, ou até mesmo, você sabe, antes que Barack Obama deixe o cargo.

AMY GOODDMAN:: Ta-Nehisi Coates. nós vamos fazer o link com a reportagem de capa para The Atlantic chamando para o “O processo de Reparação”, assim como a parte um da nossa entrevista com ele em  Democracy Now.

 

 

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Reparação nos Estados Unidos: o processo já começou – parte 1

Posted by alaiONline on novembro 20th, 2014

” O Juízo Final: a revisão da Escravidão ”

Por Amy Goodman & Juan González
raduzida por Ana Alakija para oalaiONline

Ta-Nehisi Coates é escritor, jornalista, blogger, educador e editor da revista virtualThe Atlantic , onde escreve sobre cultura e questões sociais e politicas. Um ensaio feito por ele na edição de junho da revista reacendeu um debate nos Estados Unidos sobre reparação da escravidão e pelo racismo institucional. Coates explora como a escravidão, a segregação imposta pelo regime Jim Crow e a política habitacional federal apoiaram o roubo sistemático de posses dos afro-americanos, impedindo os mesmos de acumular riquezas, de gerações a gerações. Grande parte do ensaio está centrado nos esquemas de empréstimos predatórios que fraudaram potenciais proprietários afro-americanos. Ele concluiu: “Se contar as dívidas morais, a América inteira não será suficiente [para pagar]”. Desde então Coates tem realizado conferências pelo país, contactado políticos, assistido comunidades e escrito uma série de outros ensaios e artigos pedindo reparação, por exemplo, para a comunidade de Ferguson, pela morte de Michael Brown. Clique aqui para ver a entrevista original em inglês para o Democracy Now feita por Amy Goodman & Juan González. Esta é uma transcrição do rush disponivel em inglês e  traduzida  para o português por Ana Alakija . O ensaio original de Ta-Nehisi Coates , em inglês, sobre o Processo da Reparação nos Estados Unidos na The Atlantic pode ser acessadoaqui. Esta é a parte1 em português da entrevista. A parte 2 em português pode ser acessada aqui.

 

 

AMY GOODMAN: “O Processo de Reparação: Duzentos e cinquenta anos de escravidão. Noventa anos de Jim Crow. Sessenta anos de ‘separados, mas iguais’. Trinta e cinco anos de ‘política de habitação racista’. Se contar as dívidas morais, a América inteira não será suficiente. ” Assim começa uma nova reportagem-bomba de capa na edição de junho da revista The Atlantic assinada pelo ensaísta Ta-Nehisi Coates. O artigo está reacendendo uma discussão nacional sobre as reparações pela escravidão norte-americana e racismo institucional.

JUAN GONZÁLEZ: No artigo, Ta-Nehisi Coates expõe como a escravidão, a segregação de Jim Crow e a política habitacional federal apoiaram sistematicamente o roubo dos afro-americanos de suas posses e impediu os mesmos de acumular riqueza entre gerações. Grande parte da peça centra-se em esquemas de empréstimos predatórios que fraudaram potenciais proprietários  mutuários afro-americanos. Este é um vídeo que The Atlântic lançou para pré-visualizar a sua nova reportagem de capa, “O Processo de Reparação.”

Billy Lamar Brooks: “Esta área aqui representa a mais pobre dos pobres na cidade de Chicago”.

Mattie Lewis: “Eu sempre quis ter minha casa própria, porque eu trabalhei para pessoas brancas quando eu estava no sul, e elas tinham belas casas, e eu sempre disse que um dia eu ia ter uma”.

Jack Macnamara:”Os brancos criaram o gueto. É horrível admitir isso. Mas este é o melhor exemplo que eu posso dar sobre racismo institucional”.

JUAN GONZÁLEZ: Para falar sobre Reparação, estamos aqui agora com Ta-Nehisi Coates em New York City. Bem-vindo ao Democracy Now!

TA-NEHISI COATES: Muito obrigado por me receber.

JUAN GONZÁLEZ: Você começa seu arigo com um personagem particular, Clyde Ross.

TA-NEHISI COATES: Sim.

JUAN GONZÁLEZ: Conte-nos a história e por que você decidiu começar com ele.

TA-NEHISI COATES: Mr. Ross é apenas emblemático para o que aconteceu com os afro-americanos do século 20. Mr. Ross nasceu na região do Delta do Mississípi. Sua família não era particularmente pobre; eles eram agricultores proeminentes. Eles tiveram suas terras e praticamente todos os seus bens tomados através de um esquema de impostos supostamente restituíveis e que foram reduzidos a parceria. No sistema de parceria, não havia nenhum tipo de garantias sobre o que eles poderiam tomar versus o que eles realmente tomaram.

Quando eu conheci Mr. Ross, a primeira coisa que ele me disse foi que ele deixou Mississippi para Chicago, porque ele estava procurando a proteção da lei. Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas quando ele me explicou, ele disse: “Não havia juízes negros, promotores negros, nenhum policial negro. Basicamente, nós não tivemos nenhuma lei. Nós éramos ‘bandidos’. As pessoas podiam tirar de nós o que quisessem “. E isso aconteceu muito no início da sua vida.
Ele foi para Chicago pensando que as coisas seriam um pouco diferente. Na superfície, elas eram. Ele conseguiu um emprego, se casou. Teve uma vida decente e basicamente procurou mais um emblema da classe média americana nos anos do governo de Eisenhower, ou seja, a casa própria.
Infelizmente, devido à política do governo, Mr. Ross na época, como a maioria dos afro-americanos em todo o país, não foi capaz de contrair um empréstimo, devido às políticas bancárias de risco que decidiam a quem emprestar dinheiro. Houve um amplo consenso geral de que os afro-americanos, por nenhuma outra razão além de encoberta pelo racismo, não poderiam ser mutuários responsáveis.
Mr. Ross, como acontece com as pessoas quando são empurradas para fora do mercado de crédito legítimo, acabou no mercado de empréstimo ilegítimo e entrou num sistema de compra de contrato, que é um esquema bastante oneroso, de alugar casa para pessoas que estão procurando comprar; ele acabou por comprar uma casa, eu acredito que por US $ 27.000. A pessoa que vendeu a ele tinha comprado a casa seis meses antes por US $ 12.000. Mr. Ross mais tarde se tornou um ativista, ajudou a formar a Liga de Compradores, em defesa dos afro-americanos proprietários deimóvei a oeste de Chicago. Estima-se que, durante nesse período, 85 por cento dos afro-americanos querendo comprar casas em Chicago fizeram isso através da modalidade de compra de contrato.

JUAN GONZÁLEZ: Vamos agora ouvir Clyde Ross em suas próprias palavras, falando em 1969, em nome dos compradores da Liga de Contratos, uma coalizão de proprietários negros no sul e oeste de Chicago, os quais haviam sido ‘trancados’ em um mesmo sistema de empréstimos predatórios .

Clyde Rossi: “Nós temos sido enganados muito aquém do dinheiro. Temos sido enganados aquém do direito de sermos seres humanos em uma sociedade. Temos sido enganados aquém de podermos comprar casas a um preço decente. O tempo é agora. Temos a chance agora. Os compradores da Liga de Contrato apresentam uma chance para as pessoas desta área sairem deste aperto da sociedade, para moverem-se, estarem com seus próprios dois pés, serem seres humanos, lutarem por aquilo que você sabe que é certo. Lutem!”

AMY GOODMAN: Ta-Nehisi Coates, você pode falar sobre este exemplo, e outros consideráveis, e em seguida, sobre o projeto de lei de Reparação que foi introduzido pelo deputado John Conyers na Câmara, e quais reparações seriam na verdade?

Coates nasceu em 1975 e cresceu em Baltimore, Maryland. Seu pai, William Paul Coates, um veterano da Guerra do Vietnã e ex-Pantera Negra tinha uma pequena editora especializada em estudos afro-americanos. Sua mãe, Cheryl, era o ganha-pão da família. A influência de seu pai e sua experiência de vidaf requentando escolas na conturbada West Baltimore é contada no seu livro The Beautiful Struggle (A luta bonita), publicado em 2009. Ele abandonou a graduação na Howard University para seguir o Jornalismo. Coates é o 13o. professor visitante Martin Luther King 2012 do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e colunista convidado para o New York Times, depois de ter recusado uma oferta deles para se tornar um colunista regular. Ele também escreveu para outros jornais.

TA-NEHISI COATES: O que é importante estabelecer é que há uma maneira convencional de falar sobre as relações entre a comunidade afro-americana e a comunidade branca na América e é o que eu chamo, basicamente, de visão do problema do racismo nos Estados Unidos. Os negros querem sentar em uma mesa e os brancos querem sentar em outra mesa. Se pudéssemos chegar a um ponto que as pessoas negras e brancas se gostassem, tudo estaria resolvido.
Na verdade, até mesmo esses termos que estamos usando, negro e branco, são invenções do racismo. Se você rastrear a história por volta de 1619, a melhor maneira de descrever como era a relação entre negros e brancos é através da pilhagem, do roubo constante do trabalho dos negros, que vai da escravidão e se estende através da politica de Jim Crow; em alguns casos, o roubo descarado de filhos das pessoas e da venda de crianças, a tomada do corpo negro por qualquer lucro que você pode obter através do Jim Crow do sul, onde você tem um sistema de escravidão pela dívida, parceria, o que realmente não é muito diferente da escravidão; tirando a venda real das crianças, você está ainda sob exploração do trabalho que tira o máximo que puder, um sistema como ‘separados mas iguais’, no movimento dos direitos civis, que tradicionalmente, você sabe, destina as fontes de água para os de cor e banheiros só para os brancos. O que as pessoas tem que lembrar é que, num estado como Mississippi ou em qualquer lugar do sul, onde você tem um sistema universitário público, os negros estão pagando por isso. Os negros estão cumprindo a sua fidelidade ao Estado, e ainda assim eles não estão recebendo o mesmo retorno. Isto é roubo. E sistematizado.
Estamos tentando falar sobre isso com praticidade, a lei. Foram quase 16 mil palavras apenas para fazer o processo. Agora é apoiar o projeto de lei do deputado John Conyers, “H.R. 40”, para saber de fato qual o legado da escravidão para os negros e como isto pode ser remediado legalmente. Eu não estou tentando driblar sua pergunta, o que quero dizer é que é preciso calcular o que foi a escravidão. Nós temos que calcular o que foi o Jim Crow. Nós temos que calcular o que perdemos pelas politicas de empréstimos de risco, chegar a algum valor e, discutir se pode ser pago; se não, o que pode ser feito no lugar disso.

JUAN GONZÁLEZ: E quando você menciona o saque sistêmico, isso não é história antiga?

TA-NEHISI COATES: Não, não, não é.

JUAN GONZÁLEZ: Na mais recente…

TA-NEHISI COATES: Não, não.

JUAN GONZÁLEZ: …crise econômica no país, houve uma enorme redução de riqueza…

TA-NEHISI COATES: Certo.

JUAN GONZÁLEZ: -…de afro-americanos no país, como resultado da crise da habitação. E a narrativa conservadora retrata que a crise imobiliária foi causada …por políticas de ações afirmativas, por ‘Fannie Mae’ e ‘Freddie Mac’ [fundos criados para amortização de moradia durante a Grande Depressão] para torná-la executável…para os afro-americanos com redução de crédito para obter empréstimos. Fale sobre isso e essa enorme perda de riqueza que ocorreu recentemente.

TA-NEHISI COATES: O grande sociólogo Douglas Massey tem um documento muito interessante especificamente sobre a crise de execução das hipotecas (esse é o nome correto) que aconteceu muito, muito recentemente. E uma das coisas que ele demonstra no documento é que a única coisa que tornou isso possível foi a segregação. Enão faz todo o sentido. Nenhuma comunidade é a comunidade mais segregada no país como a comunidade afro-americana. Corresponde a uma população de pessoas que têm sido tradicionalmente excluída do mercado de oportunidades de construção de riqueza. Por isso esta ansiedade agora para ter oportunidades de construção de riqueza. Se você é um banqueiro, quer vender um esquema e tirar alguém da jogada, ali estão as suas marcas. E isso é essencialmente o que aconteceu.

AMY GOODMAN: Ta-Nehisi, eu queria ir para essa questão das reparações e dos exemplos, por exemplo, depois do Holocausto, a Alemanha e os judeus. Você pode falar sobre como essas reparações aconteceram?

TA-NEHISI COATES: Reparação para os afro-americanos implica em todos os tipos de problemas práticos que teremos que lidar e lutar sobre. Uma das coisas que muitas vezes as pessoas dizem sobre a Reparação afro-americana é: “Bem, oh, você está apenas falando sobre a escravidão. Isso foi há muito tempo”, como se se nós estivéssemos falando sobre a mais próxima ou mais presente seria muito mais fácil. Na verdade, se ela estivesse mais próxima, seria uma realidade muito mais dura para as pessoas. O que eu quero dizer é que, no caso da reparação de Israel, a única mais citada, a Reparação não foi a mais correta. Ela foi difícil para alguns israelenses que não queriam se sentir como se eles estivessem tomando um dinheirinho por fora de mães ou irmãos, ou avós que ‘apenas tinham sido mortos’. Na Alemanha, na verdade, se olharmos para as pesquisas de opinião pública na época, eles não eram mais ‘alemães’, no sentido do passado, não estavam mais aptos a assumir a responsabilidade hoje que os norte-americanos representam para a escravidão. Então, foi uma peça muito, muito difícil.
O que é interessante, e eu acho que é uma das lições que podem ser aprendidas, é a forma como a Reparação para os israelistas foi estruturada. Na verdade, a Alemanha não só deu um cheque para Israel. O que eles realmente fizeram foi darvouchers. E esses vales, que valiam uma certa quantidade de dinheiro, tinham que ser usados com empresas alemãs. Então, essencialmente, o que foi estruturado como Reparação a Israel foi um estímulo para a Alemanha Ocidental, ao mesmo tempo. E isso nos dá alguma pista sobre algum tipo de solução criativa que possa haver para a comunidade afro-americana.

JUAN GONZÁLEZ: Agora, uma das questões que também levantam é que essa demanda de Reparação não é nova na história americana em si.

TA-NEHISI COATES: Não.

JUAN GONZÁLEZ: Você fala sobre Belinda Royall, que em 1783…tinha sido uma escrava por 50 anos, tornou-se uma mulher liberada. Ela pediu Reparação ao Estado de Massachusetts…

TA-NEHISI COATES: Certo… Eu acho que as pessoas – pessoas negras – pensam nisso como algo que aconteceu há 150 anos, e foi, Reparação é basicamente tão antiga quanto este país. E não é só, como você mencionou, Belinda Royall, mas também pessoas brancas que entenderam naquele momento que algum grande dano tinha sido feito. Muitos dos serviços religiosos, por exemplo, poderiam excomungar pessoas que não liberassem seus ‘escravos’; no contexto atual, dariam alguma coisa, como indenização. Uma grande citação de Timothy Dwight, ex-presidente da Universidade de Yale, diz: “Libertar essas pessoas e dar-lhes nada implica numa maldição sobre elas”. E efetivamente foi isso que aconteceu, você sabe, veja a realidade afro-americana… Muitas, muitas pessoas da geração revolucionária, a geração que lutou na Guerra Revolucionária, entendeu que a escravidão era de alguma forma, uma contradição do que a América estava dizendo que era. E muitas dessas pessoas também, no mínimo, deram a terra para os afro-americanos, quando eles foram liberados. Alguns deles educaram. Essas pessoas entenderam que empurrar alguém para a vida selvagem, que é basicamente o que aconteceu com os negros, não seria uma coisa boa.

AMY GOODMAN: Ta-Nehisi Coates, muito obrigado por estar conosco. Nós vamos fazer a parte dois logo após o show, e vamos publicá-la online no Democracy Now.

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Tempo de Halloween: pele branca, face negra (?)

Comissão para resgatar a história da escravidão no país é criada pela OAB

Estados Unidos têm a maior taxa de encarceramento de negros do mundo

By Blogsdna

 Posted in ENTREVISTAS, Reparação  Tags: escravidão, reparação

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